terça-feira, 31 de agosto de 2010

Nascidos num outro ventre, sinto que são meus.

Recordo os seus caracóis de menina, pequenos e doirados mas muito longos caídos sobre um velho sofá e no outro canto precisamente o oposto. Caracóis longos e mais suaves de cor escura. Num sofá individual, o pequeno corpo de um rapaz confundia-se no tamanho enorme de uma fralda…também o seu cabelo era negro e denso.
De fartos caracóis loiros, dava os seus primeiros passos apoiada. Parecia uma bonequinha de porcelana com as suas faces coradas, de pele clara e lábios como o botão de uma rosa pequena.
Morena de beleza exótica, era sua irmã. Tão bela e doce. Seus olhos rasgados, de um castanho achocolatado, distraia o olhar do seu sorriso simpático e cativante. Também sua boca parecia uma rosa beijada pelo orvalho. Toda esta beleza era também recebida pelo irmão mais novo. Moreno como a anterior de lábios carnudos, combinava na perfeição com os seus olhos amendoados e sua pequenez dava uma vontade enorme de o abraçar no colo sem nunca mais o deixar. Hoje o mais belo dos adolescentes!
A beleza de tais crianças, enterneceu o meu coração de tal forma, que hoje os amo como meus!
Durante muito tempo, estas crianças viveram experiências extremamente negativas por erros impensáveis de adultos, em que faziam valer os seus direitos expondo estas crianças aos mais hediondos crimes morais alguma vez presenciados. Muitos deles guardados em segredo pela vergonha que os acompanha. Passaram dificuldades que muitos adultos nunca na vida passaram e dos quais tentei evitar, mas nem sempre com sucesso. Por vezes ao saber, já era tarde.
Mas embora ninguém tenha compreendido na altura o porquê da minha presença em tal situação, dessaseis anos depois, o resultado está a vista. O mau progenitor na altura, tornou-se o bom, o presente tornou-se ausente num continente distante e eu sempre presente de uma ou outra forma. Engoli o meu orgulho, para os encorajar e aproximar do actual progenitor e tento compensar o que o ausente não consente. Hoje depois de tanta experiência vivida destas crianças, devemos dar valor ao que são actualmente. Pessoas carinhosas e que apesar de cada um ter a sua personalidade distinta, são o melhor que o Mundo tem. A definição da nossa personalidade não está na forma que nos mostram que a vida é, mas sim na forma como podemos olhar para ela e acreditar que, com muita força de vontade, o nosso futuro pode melhorar. Um dia temos pão e no outro não. Mas com muito amor do nosso lado, por maior que seja a dificuldade á sempre que olhe por nós!
Amo-vos muito, filhotes da tia!

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