domingo, 27 de março de 2011

Poema de Vinicius de Morais

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

domingo, 13 de março de 2011

Obituario.

Lembrem-me como aquela que lutou, que sorriu e que amou.
Lembrem-me como aquela que sempre esteve presente quando alguém a procurou.
Lembre-me como aquela cujo a dor nunca mudou.
Lembrem-me como aquela que sempre vos amou.

O espelho.

Vejo-me ao espelho e não me reconheço. Serei eu um fruto da minha imaginação?
De quem é este corpo que vejo ao espelho? De onde surgiu esta carapaça que trago sobre o corpo e esconde quem sou? Este, decididamente, não sou eu.
Há que olhe para si e fisicamente não se reconheça, tanto por ter um peso acima do que é considerado saudável e que o priva de simples movimentos, que os restantes fazem sem pensar ou sentir dificuldade, seja por não se reconhecer a anatomia que lhe foi dada ao se formar num ventre.
Não temos que aceitar o que vemos, porque o que nos define não é o que somos e sim o que fazemos. Hoje em dia podemos ter a ajuda da ciência até mesmo para mudar de sexo e nesse sentido, devemos lutar para sermos o que os nossos olhos vêm no outro lado do espelho.
O meu corpo é o meu templo ou o meu túmulo, depende apenas de mim decidi-lo.

Falta de consciência sobre nos mesmos.

A falta de consciência sobre nos mesmos, pode nos levar a uma auto desvalorização consentida.
O que significa que por vezes acordamos e nos observamos num reflexo de um espelho, pensamos…mas que raio é que eu ando cá a fazer?
A vida nem sempre faz sentido e por vezes pensamos que, se todos têm uma razão para andar neste Mundo, qual é o meu?
A verdade é que, por não nos valorizarmos não conseguimos saber o significado que temos para quem nos rodeia. Podemos até ser uma força motivadora que desconhecemos ou até mesmo ser-mos motivo de exemplo para a vida de outras pessoas.
O dia a dia que vivemos ou sobrevivemos, transforma-nos em seres mais fortes e quem nos tem acompanhado nas adversidades da vida e nos conhece minimamente, consegue ver isso. Mas não nós.
Já pensou em quantas pessoas a sua vida pode ter inspirado?
Quantos sonhos ajudou a realizar?
Quantas pessoas olham para si diariamente e o/a admiram ou invejam secretamente?
A falta de consciência sobre nos mesmos, não nos ajuda a olhar mais além. Criamos um espírito derrotista e vazio, ao contrário de nos olharmos ao espelho diariamente e mesmo que não gostando de quem vemos, podemos realmente admira-lo.

domingo, 6 de março de 2011

O suborno social

Ocupada com os tempos da minha mudança, não posso deixar de observar o que me rodeia.
A sociedade é continuamente subornada e a plena consciência desse facto ainda faz com que o sistema não possa ser contornado, porque as vezes até o fazemos de forma inconscientemente oportunista.
Podemos subornar em todos os locais, até mesmo nos mais inesperados.
O local de trabalho é sem duvida onde se pode visualizar mais situações, até porque nem sempre nos concentramos propriamente no trabalho em si, mas no que se passa ao nosso redor. Existem pessoas que por terem objectivos tão definidos, ultrapassam a barreira do cinismo puro e da decência. Apesar de saberem e verem tão bem como eu, gostam de ser seduzidos!
Esse suborno social é utilizado intencionalmente com o objectivo de obter algo que queiramos. Faz-se um sorriso ou uma insinuação ao chefe, para se obter mais atenção da sua parte e consequentemente obtém-se algumas regalias que por vezes se vêem reflectidas no recibo de vencimento. O vestuário nem sempre apropriado ou alguma exposição carnal também ajuda.
Quando queremos agradar ou “seduzir” intencionalmente com uma finalidade, usa-se este tipo de suborno.
Faz-se charme numa fila com o objectivo de passarmos a frente, usa-se a sedução num agente policial por alguma infracção cometida com a esperança da coima ser mais suave ou até mesmo perdoada. Até compactuamos com alguém que não gostamos, porque sabemos que é preferível não ter essa pessoa contra nós e até mesmo quando vamos a um local solicitar esclarecimentos ou algum tipo de informação, e que nos convém que o funcionário nos atenda com o mínimo de profissionalismo.
A verdade é que tal como usamos essa forma de suborno, também nós somos suas vítimas.
Esquecemos, que como membros da sociedade actual, não temos forma de alterar essa realidade embora sejamos tão culpados como os que acusamos.